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30/06/2006
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A Copa do Mundo é delas, das mulheres
No futebol, o público feminino também está batendo um bolão, e não é dentro do gramado, mas em frente à televisão
Michelly Vaz
De quatro em quatro anos a história se repete. Mais uma Copa do Mundo. Para nós, seres másculos e inteligentes, é época de renovação e aprofundamento de votos que fazemos na infância, o eterno amor pela arte do futebol. Mas há, como tudo na vida, algumas curiosidades pitorescas que circundam essa magia: as mulheres. Sim, as donas da casa e da família e do trabalho e, sobretudo, de nossas vidas. Que, diga-se, nos envolvem em suas teias desde a mais tenra idade. Pois é, companheiro, elas também querem dominar o futebol. Não os domingueiros joguinhos de várzea, mas o almejada Copa do Mundo.
Vejamos do princípio. Quantas vezes sua amada companheira sentou-se ao seu lado, em pleno sábado às 21h45, para contemplar a quinta rodada do Brasileirão série C, e discutiu com veemência lances e faltas que o "excelentíssimo" não havia marcado. Pois bem, se você, como eu, acha uma completa injustiça essas mesmas " que brigam, difamam e perjuram o nosso honrado passatempo " se sentirem no direito de assistir aos melhores jogos dos próximos quatro anos, junte-se a mim na campanha Faça com ela na Copa o que ela faz contigo o ano inteiro.
Provoque-a, isso mesmo. Convide-a para um jantar romântico, regado a vinho e prato predileto, ou até mesmo aquele disputadíssimo espetáculo de balé, que há anos ela quer assistir. Ah, outra boa abordagem é a famosa viagem para a paradisíaca ilha da Polinésia Francesa, em algum ponto em que não exista nada, muito menos eletricidade, para os pombinhos reviverem a nostálgica lua-de-mel.
Desista, nenhuma dessas alternativas as farão mudar de idéia e abandonar as tardes de futebol, afinal, é Copa e infelizmente (ou felizmente, ainda não consegui decidir), isso para elas é sagrado.
Munidas de suas inseparáveis tabelas, anotando os resultados dos jogos como quem anota a lista de compras do supermercado " ou as dez maneiras de entrar com pé direito em 2006, que constam em dez de cada dez revistas femininas ", chegam apoderando-se do melhor lugar da sala, discutindo e algumas vezes cantarolando o hino dos outros países, para que de forma discreta, porém opressora, mostrem como até naquele ambiente masculino e gladiador podem superar nossa singela sapiência sobre cultura mundial.
Mas voltando ao gramado, elas gritam, xingam (às vezes mais alto do que você), e no intervalo, em vez de prepararem algum petisco para a moçada, aguardam pelo "show do intervalo". Isso quando, de maneira bem carinhosa, não sussurram: "benzinho tem carne? Ah, e se tiver pão de alho traz também". Começo a achar que a competição é a nossa cruz, porque até na "massa" elas não põem mais a mão.
Mulher e futebol uma combinação bela, no entanto intimidadora. Enquanto você se expõe com sua camiseta verde e amarela, que comprou há três copas, na qual os furos embaixo do braço e o desbotado da cor original carregam consigo a sorte da quarta estrela em 1994., ela surge com um modelito mais inspirador a cada jogo. Tudo milimetricamente calculado, faixa nos cabelos, brincos e tudo quanto é acessório para, mais uma vez, demonstrar sua superioridade.
Será a nova guerra dos sexos? Bom, amigo, "nova" posso afirmar que não é, pois vem acontecendo há anos. É só reparar nos estádios o crescente número de torcedoras, flagradas de diversas formas pelas indiscretas câmeras de televisão. Um deleite para alguns. Mas para mim apenas uma constatação, de que perdemos muito, e muito, terreno.
A nós, fica somente a sensação de derrota e o gosto amargo ao engolir que, mesmo no protegido mundo da bola, no qual reinamos absolutos durante décadas, o sabor de derrota é inevitável e a zona de rebaixamento é a maior probabilidade, calculada inclusive por diversos matemáticos do futebol.
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