Thiago RamariQuando nasceu o projeto de filmar a história de Maria Antonieta, os responsáveis tinham tudo em mãos para fazer uma grande cinebiografia: conteúdo interessante, direção de renome e dinheiro. Muito dinheiro. Contudo, o resultado final do projeto mostrou que doses exageradas da dita "liberdade poética" podem ruir com qualquer boa idéia.
Se não fosse o dinheiro investido, "Maria Antonieta" seria um fiasco ainda maior. Dirigido por Sofia Copolla, o filme tentou fugir das amarras, sobretudo as musicais, que norteiam a maioria das produções ambientadas em séculos anteriores. Em outras palavras, a música clássica saiu de cena para dar lugar a canções e trilhas mais contemporâneas.
A princípio, a idéia parecia interessante e capaz de fazer de "Maria Antonieta" um filme de época mais criativo. As trilhas atuais ajudariam a compor a personalidade voluptuosa da protagonista, conhecida pelas atitudes fúteis e adúlteras que apresentava. Contudo, o exagero na dose musical, que deveria ficar restrita a momentos bem pequenos e específicos, fez com que a produção se tornasse invariavelmente descontextualizada.
A tentativa de "rejuvenescimento" músico-estilístico no filme deveria figurar como mero atrativo secundário e subordinado às músicas clássicas. Não o inverso. Durante a projeção, são vários os momentos em que bandas como The Strokes, Bow Wow Wow e Gang Of Four dominam o contexto auditivo das cenas. Pobre de Antonio Vivaldi, que teve um dos concertos mais famosos que compôs relegado a planos inferiores.
O filme é também recheado de cenas descartáveis, que, no conjunto final, entediam o espectador. O roteiro se concentra em registrar quase que somente as futilidades da última rainha da França, condenada à guilhotina durante a Revolução Francesa. O problema está nas poucas ligações construídas com o contexto social da época a fim de criar um parâmetro do país. Maria Antonieta só é vista comprando roupas e refletindo sobre o lado bucólico da vida.
Em contrapartida, o filme esbanja investimentos nos quesitos técnicos. É o que "salva" a produção. A direção de arte, o figurino, a fotografia, a maquiagem e a montagem são boas o suficiente para agradar as pupilas espectadoras. A atuação de Kirsten Dunst como Maria Antonieta está longe de ser das melhores. Pela falta de dramaticidade na interpretação invariavelmente pueril, Kirsten parece mais uma Mary Jane com roupas de época.
Avaliação: 6.5
MARIA ANTONIETA " (Marie Antoinette, 2006)
Direção: Sofia Copolla
Produção: EUA, França e Japão
Com: Kirsten Dunst, Marianne Faithfull e Steve Coogan
Na internet - www.sonypictures.com/homevideo/marieantoinette
Veja mais " De Sofia Copolla estão disponíveis em vídeo os filmes "Encontros e Desencontros" e "As Virgens Suicidas"
Imagem/www.dvdrama.com/imagescrit/marie_antoinette_7.jpg
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