Equipe Matéria PrimaA campanha publicitária é bonita e o produto pode ser tentador: uma revista de poucas páginas, de preço razoável comparada às outras do mercado e que contém os fatos relevantes da semana em textos curtos e fluidos. Com o lema "mais informação em menos tempo", a "Revista da Semana" " nova publicação da Editora Abril " surgiu um pouco tímida nas bancas, em agosto deste ano, prometendo suprir a sede de informação do leitor brasileiro que não tem tempo de saber o que acontece ao seu redor. Ou seja, é mais uma revista que resume os fatos do cotidiano em textos curtos e de consumo rápido.
Mas não é de resumos que vive o homem. No mundo atual, os meios de comunicação são mais rápidos e ágeis que o impresso. A televisão, o rádio e principalmente a internet invadiram o mundo áudiovisual do leitor, onde gritam por atenção, despejando informações a todo e qualquer momento (o Plantão da Globo que o diga). E o jornalismo impresso, principalmente o de revista, precisa se adaptar a essas transformações, atraindo o leitor com o que tem de mais promissor: aprofundar-se na notícia, ir além do que já foi publicado e explicar ao leitor como todas aquelas informações podem afetar o cotidiano. Exatamente o contrário do que propõe a "Revista da Semana", que faz uma seleção "inteligente" (como ter certeza?) dos fatos mais relevantes da semana no Brasil e no mundo.
A publicação afirma que sua existência está voltada ao leitor dinâmico, que não tem tempo a perder. Mas o leitor tem tempo, sim: lê o jornal enquanto toma o café da manhã; escuta notícias no rádio, no caminho ao trabalho; assiste ao jornal na televisão enquanto toma o café depois do almoço e quando chega em casa, enquanto descansa. Os horários desses programas são milimetricamente calculados para que a audiência possa consumir as informações. Mas essa mesma audiência não é estimulada a pensar sobre o que ouve, lê e vê nos jornais. Isso forma uma geração alienada, mergulhada em informações que nada significam além de entretenimento. Nada é feito para que o leitor pense sobre as notícias. Não que ele seja incapaz, mas não é estimulado a fazê-lo. E com os problemas do dia-a-dia, para quê pensar sobre a Guerra do Iraque, se em nada vai afetar o Brasil?
A "Revista da Semana" não chega a ser ruim: o conteúdo (às vezes, dogmático, é verdade), tenta introduzir certa carga de questionamento, como na sessão "Polêmica", em que expõe os dois lados de um assunto, na opinião de especialistas. Boa parte da revista também é dedicada à cultura, com pequenas resenhas de filmes, livros e artes. Mas a revista assusta por sua filosofia: no momento em que o mundo está repleto de informações vindas de todo lugar, uma revista nova deveria ser capaz de traduzir essas informações, aprofundar-se nos assuntos relevantes, analisar como os fatos atingem a vida do leitor " não apenas copiar e colar o que achar justo ou o que vai de acordo com a política da editora. Em uma era em que o papel do jornalista já é questionado e voltado à filtragem de informações, a "Revista da Semana" dá sinais de que o jornalismo de revista pode perder o que tem de mais promissor, que é se aprofundar nas notícias. Uma perda ainda maior para o leitor, que joga fora os R$ 4,90 investidos em uma revista semanal com informações que podem ser vistas de graça na TV do barzinho da esquina.
Imagem meramente ilustrativa
"Revista da Semana" traz variedades, mas não se aprofunda
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