Carina BernardinoSegundo dados do censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população católica no país soma 124.980.132 de indivíduos. A veracidade dos dados comprova que a quantidade de fiéis católicos é um tanto significante. Porém, desde 2004, por meio de coberturas da mídia, a imagem da Igreja Católica tem sido abalada por escândalos envolvendo presbíteros em casos de abusos sexuais com crianças.
Para explicitar o posicionamento da Igreja Católica sobre os casos de pedofilia, foi entrevistado, por meio de um serviço de correio eletrônico gratuito, dia 25 de maio deste ano, o arcebispo metropolitano de Maringá dom Anuar Battisti.
Arcebispo da cidade desde 24 de novembro de 2004 e bispo referencial da Juventude no Regional Sul II da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Battisti, 55, tem como missão animar e coordenar o trabalho de evangelização nas 52 paróquias situadas em 28 municípios. A entrevista discorreu desde as etapas de formação religiosa de um presbítero, dogmas da Igreja, celibato sacerdotal até à revolução tecnológica que desumaniza o homem.
O arcebispo se considera moderno e à vontade para conceder uma entrevista por meio de um recurso tecnológico que vem transformando e oferecendo caminhos errados para os cristãos? Não podemos ficar alienados do progresso da ciência e da técnica. Louvamos e agradecemos a Deus pela inteligência dada ao homem para progredir e aperfeiçoar a Terra.
O senhor considera que os casos de pedofilia deram início a uma das maiores crises da Igreja Católica nos tempos modernos? A vida da Igreja é feita de pessoas humanas, com seus defeitos e qualidades. Sem dúvida esses casos que tomaram a mídia, mancharam a imagem da Igreja. Mais do que tudo a "vergonha", expressão do Papa na sua visita aos Estados Unidos e o encontro com algumas das vítimas, marcaram o sentir da Igreja hoje, que deve ser o amor e a misericórdia.
Em sua opinião, os padres pedófilos são resultado da necessidade do homem de se adequar às suas transformações pessoais? Por quê? Esses padres certamente foram na sua infância vítimas de abusos sexuais, até mesmo por familiares. Não é uma necessidade natural, foram determinados pelas circunstâncias.
Para desvendar crimes sexuais cometidos com crianças e adolescentes, foi criado em março deste ano a CPI da Pedofilia pelo senador Magno Malta (PR-ES) . O senhor concorda com essa medida? Sempre fui a favor da justa punição e quem deve paga. Todas as medidas que venham somar na defesa da dignidade humana têm meu apoio. Nada que seja feito às escondidas ficará em segredo.
Em entrevista concedida à revista Época na edição N° 309, 22 de abril de 2004. O senhor como representante da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou que: "a situação é preocupante, mas, é um desvio normal em qualquer ser humano e não se trata de um desvio de caráter ou de conduta". O senhor ainda considera como normalidade a recaída de religiosos e a classifica como um instinto inevitável e próprio do homem? Eu afirmei e continuo afirmando, todos os desvios de ordem sexual, fazem parte da natureza humana mal formada. Em algum momento da vida falhou a educação sexual afetiva. A sexualidade humana não pode ser entendida como genitalidade, a sexualidade é fundamental na construção de relacionamentos verdadeiros.
Segundo o psiquiatra Christian Gauderer a pedofilia é uma doença visível por meio de observação do indivíduo. Quanto à formação religiosa dos padres, nesse período há possibilidade de reconhecer a homossexualidade ou a doença compulsiva sexual? Para formar um presbítero levamos oito anos de formação acadêmica e pastoral. Neste processo formativo o jovem é acompanhado por especialistas e orientado para assumir consciente e livremente o presbiterado sem coação. Nesses últimos anos a Igreja tem se preocupado em fazer um verdadeiro discernimento vocacional em todo o processo de formação.
A era tecnológica que o mundo está presenciando, vem revelando indivíduos cada vez mais capitalistas e desumanos. As competições são em busca da satisfação, seja financeira ou sexual, o que afasta os indivíduos das práticas religiosas. Foi essa nova era que influenciou a redução no número de padres ou foi o celibato sacerdotal? A falta de ministros ordenados não está só na Igreja Católica. Também as Igrejas cujos ministros são casados, a necessidade de novos candidatos se faz sentir muito fortemente. Não é abolindo o celibato que se tem as soluções, porque também entre os casados se encontram casos de pedófilos. O celibato é tratado de forma clara e direta em todo o caminho de formação dos futuros presbíteros. Não existem "tabus" em tratar os temas relacionados à sexualidade e à afetividade.
Tirando a ideologia da Igreja Católica que não aprova a união de um padre pelo sagrado matrimônio. Qual seria sua opinião a esse assunto tão delicado? .
A igreja sempre foi a favor do matrimônio e defende a vida da família com unhas e dentes. Para os candidatos ao presbiterado se exige o celibato de livre escolha, e para toda a vida. Não vejo porque esse assunto ser "tão delicado".
Quais penalidades a Igreja impõe para um sacerdote que pratica pedofilia? Comprovados os fatos, o presbítero é imediatamente suspenso de seu ministério. Como todo e qualquer cidadão é colocado à disposição da Justiça.
O senhor acha que a cobertura da mídia ajuda ou atrapalha nas investigações sobre casos de abusos sexuais envolvendo padres e crianças? A mídia cumpre o seu papel de informar, nem sempre tem todas as informações corretas e pode incorrer em graves enganos. A Igreja não tem nada a esconder. Toda investigação deve ser feita de forma correta e dentro da ética.
Qual medida a Igreja Católica está tomando para evitar novos casos de padres pedófilos? Em todo o processo formativo é feito o acompanhamento pessoal de cada candidato. Para aceitar que ele venha ser ordenado presbítero, passa por várias etapas de avaliação, sempre dentro do que é possível detectar. No caminho da vida nenhum ser humano pode garantir perfeição sempre. Somos santos e pecadores.
Imagem/Carina Bernardino
Segundo dom Anuar, a pedofilia é "uma situação preocupante"
OS COMENTÁRIOS QUE NÃO TIVEREM O NOME COMPLETO DO AUTOR E EMAIL PARA CONTATO NÃO SERÃO PUBLICADOS Mais notícias da seção
° no caderno
Entrevista